Em 2019 o DATA SIM publicou a pesquisa “Mulheres na Indústria da Música no Brasil: Obstáculos, Oportunidades e perspectivas”, o primeiro levantamento de dados feito em nosso país sobre a participação feminina no mercado de trabalho da música. Os resultados foram apresentados em dezembro do ano passado durante a edição da SIM São Paulo 2019, e está disponível gratuitamente para download.
Essa pesquisa foi adaptada para o Chile, onde foi realizada através de uma parceria entre o DATA SIM, a ROMMDA (Red de Organizaciones en la Música: Mujeres y Disidencias Asociades) e a SateliteLAT . Os resultados serão apresentados nesta terça, 22 de setembro, no IMESUR, um encontro da indústria musical realizado no Chile, em uma mesa que terá participações de Valentina Bravo (TRAMUS – Chile), Noela Salas (Satellite LAT – Chile) e da diretora do DATA SIM, Dani Ribas.
Dani Ribas diz que essas pesquisas, que seguem o mesmo padrão mercadológico, são importantes por formar um panorama da participação feminina no mercado de trabalho da música na América Latina. A pesquisa sofreu algumas adaptações para ser aplicada no Chile: “Foi feita uma pesquisa nos Estados Unidos pela Berklee College of Music e o WIM, nós adaptamos e tornamos as metodologias compatíveis e agora a do Chile é a mesma que aplicamos, mas com algumas adaptações para o contexto chileno. Por exemplo, lá eles tiveram um processo de levante social em outubro, então foi necessário perguntar como era toda a questão dos empregos e dos trabalhos, antes e depois do levante. A mesma coisa em relação à Covid, aqui no Brasil a gente ainda não tinha esse contexto e lá no Chile agora tem. Esse tipo de coisa foi adaptada, mas temos três pesquisas com metodologia muito parecida”.
Em uma comparação entre os resultados da pesquisa brasileira e chilena, Dani Ribas chama a atenção para o fato de que nas duas pesquisas cada mulher tem pelo menos três trabalhos diferentes, uma jornada informal e mal remunerada. “No Brasil 60% das mulheres diz que a renda principal é a música enquanto que no Chile 51%. No Brasil tivemos 612 respostas válidas (42% em relação ao total de respostas obtidas) e no Chile, 559 (77%), o que mostra que elas são super engajadas. Por exemplo, no Chile, 53% participam de coletivos feministas, enquanto que no Brasil, apenas 23%. Lá a questão da comunidade LGBT é muito forte, 42% das entrevistadas afirmaram que se sentem parte dessa comunidade, aqui mal tivemos respostas. Por outro lado, aqui são quase 30% de não brancas, incluindo aí negras, pardas indígenas e amarelas, com predomínio de negras”.
Dani reforça a importância dessas pesquisas porque só assim é possível demonstrar com números o que sempre é falado, e conclui: ” Acredito fortemente que a questão da participação feminina no mercado de trabalho da música não é uma questão só das mulheres. Se a gente luta por um mercado mais justo, que pague melhor, que olhe para os artistas pequenos e independentes, se todos lutamos por um mercado mais igualitário, mais equânime, essa luta não é só das mulheres, deveria ser de todos na indústria da música e assim a gente espera com esses números trazer as pessoas para essa luta junto com as mulheres”.
O IMESUR acontece até o dia 27 de setembro e é um dos mais importantes da América Latina. Neste ano, a edição será totalmente digital e gratuita e acontece entre os dias 21 e 27 de setembro. A programação inclui o debate “Cultura e periferia do Brasil”, que acontece na quarta-feira com participação do sociólogo e ex-ministro da Cultura dos governos Lula e Dilma Roussef, Juca Ferreira.
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